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segunda-feira, 24 de maio de 2010

A PRIMEIRA EXIBIÇÃO CINEMATOGRÁFICA EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA


A PRIMEIRA EXIBIÇÃO
CINEMATOGRÁFICA EM SÃO JOÃO


ANTÔNIO DIAS PASCHOAL diz que a primeira projeção da cidade aconteceu na rua “ Sete de Setembro próxima ao “Largo da Estátua”. - proximidades da Praça Joaquim José, início da Avenida Tereziano Vallim.

Para as projeções foi construído um “comprido barracão de madeira.” Vários carpinteiros cuidaram do serviço. GABRIEL LEAL, era o dono do barracão, que foi construído justamente para receber o CINEMATÓGRAFO, que ninguém sabia ao certo do que se tratava até o início das apresentações.

Com refinado humor ANTONIO DIAS PASCHOAL diz que quando começou a construção do barracão, as crianças da cidade ficaram apavoradas, pois começaram a circular a notícia de que “ No barracão vai trabalhar um bicho feio, peludo, chamado cinematógrafo, que corre atrás de homens que mexem com ele! “

A construção do barracão durou algumas semanas e a estréia foi no sábado. Tinha “cobertura de zinco e uma porta larga, de entrada”. Suspensa de um gancho havia uma tabuleta anunciando:




CINEMATÒGRAPHO
Sábado – Grande função

Martírio de Jesus e
Brincadeiras do Manequinho

E um aviso:

NÃO É LANTERNA
MAGICA. AS FITAS QUE PASSAMOS SÃO DE MOVIMENTO. VER PARA CRER.





Paschoal continua sua narrativa: “Muito antes da hora marcada para o início da exibição cinematográfica, o barracão já estava superlotado. A polícia viu-se em apuros para conter a legião dos retardatários que tentavam forçar a porta de entrada. A curiosidade era imensa.”


Em outro trecho ele conta detalhes da primeira exibição:

“Começa a exibição.... As figuras aparecem meio apagadas, trepidantes, movimentando-se com rapidez. Exclamações de espanto e de surpresa partem, de contínuo, da assistência. Homens e mulheres falam alto, comentando particularidades da fita. As crianças gritam, assustadas e contentes, agitando os braços.”

“A trepidação excessiva não permitia fixar bem as figuras, que se moviam muito depressa. Mas era extraordinário”. Manequinho está em pleno desenvolvimento de suas brincadeiras. Corre, perseguido por um policial. Vai esbarrando em tudo o que encontra no caminho. Ao passar por uma loja de louças, derruba pilhas de prato, que se fazem em cacos. Num encontrão com uma carrocinha cheia de caixas redondas, faz que estas rolem pela rua abaixo, abrindo-se e deixando escapar chapéus de todos os tamanhos e feitios..” A assistência ria-se a bom rir das “ Brincadeiras do Manequinho” que consistiam apenas em derrubar as coisas de modo cômico...’

No fundo do barracão, atrás da tela, os auxiliares de GABRIEL LEAL faziam a parte sonora do filme, imitando o ruído com latas, chocalhos, cacos de louça ou vidro. “ As vezes, porém, o ruído não entrava em sincornização com a queda dos corpos.”

O MARTIRIO DE JESUS, porém, recebeu de GABRIEL LEAL um tratamento especial. “As cenas mais importantes do grande drama ele as elucidava de viva voz, gritando lá do fundo da cabina”:
-- Nascimento de Jesus em Belém!
-- Adoração dos Reis Magos!
-- Jesus discute com os doutores

E assim, até a crucificação e ressurreição do Mestre, sempre nessa linguagem concisa e rápida. Quando Jesus, crucificado, se estorcia entre os dois ladrões, ouviam-se na assistência exclamações como estas:
-- Pobrezinho!
-- Malvados!
O cronista diz ainda que a platéia participava ativamente da exibição. Muitos choravam, outros rezavam com “o rosário na mão”. E ele conclui:

-- A primeira exibição cinematográfica em São João, nesta noite histórica, começou com risos e acabou com lágrimas. ... A vida tem desses contrastes: Brincadeiras de Manequinho e Martírio de Jesus...

O barracão do Gabriel Leal permaneceu no Largo durante meses, passando quase sempre as mesmas fitas, que o povo não cansava de assistir.

sexta-feira, 21 de maio de 2010



CINEMAS EM SÃO JOÃO

A TV UNIÃO, de São João da Boa Vista, estréia esta semana o programa CLAQUETE, com o competente David Ribeiro. Era um quadro do Jornal do Dia, noticiário da emissora que se transformou, agora, em programa semanal

Fiquei muito honrado de ser convidado para o primeiro programa. Falo sobre as primeiras salas de projeção em São João da Boa Vista, os pioneiros do cinema em nossa cidade.

Aqui, um resumo desta trajetória.
José Osório de Oliveira Azevedo no artigo “ Cinema e teatro em São João”, diz que a primeira tentativa de dotar a cidade de “ uma Companhia Cinematográfica” aconteceu no dia 15 de setembro de 1911, através do vereador JOAQUIM LOURENÇO DE OLIVEIRA ANDRADE.

O vereador ficou sabendo que em São Paulo havia uma companhia que tinha interesse em montar casas de diversões pelo interior do Estado. O vereador propôs que a Câmara enviasse ofício a companhia oferecendo-se favores para a construção de um prédio para esse fim, isentando-a de impostos por dez anos e também de um auxilio a critério da Câmara. A proposta foi aprovada no dia seguinte.

Não surgiu efeito este projeto e o mesmo vereador, no ano seguinte, no dia 15 de abril de 1912, volta a insistir na idéia, oferecendo ainda mais vantagens para a instalação. Foi aprovada a proposta autorizando a Câmara municipal vender terreno de sua propriedade, destinado a construção de uma cadeia e com o dinheiro da venda, comprar outro imóvel e nele instalar a “casa de espetáculos’. O autor diz: “ Daí por diante cresceu o entusiasmo pela construção do teatro.” No dia 1 de março de 1913 o jornal Cidade de São João dá notícia da constituição da “ Empresa Teatral Sanjoanense”. Em reunião realizada no Centro Recreativo Sanjoanense “ foi constituída uma sociedade anônima, com a presença de 112 acionistas, representando 677 ações, para levantar um capital de 100 contos de réis” necessário para dar início ao empreendimento.” O CORONEL JOAQUIM CÂNDIDO DE OLIVEIRA é eleito presidente desta empresa.

A euforia foi tanta que a reunião só terminou depois das 9 horas da noite e foi abrilhantada com a presença da INTERNACIONAL, banda de música regida pelo mastro Joaquim Azevedo, que compareceu gentilmente.